domingo, 12 de fevereiro de 2012

Resgate do Professor como sujeito de transformação




RESENHA CRÍTICA



Resenha Crítica , da Obra de VASCONCELOS, Celso dos Santos. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como sujeito de transformação. São Paulo, SP: Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica. 205 p., como requisito parcial, do processo de avaliação solicitado pelos Professores Doutores: Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro e Fernando Antônio Leite de Oliveira, docentes - orientadores, vinculados à área de Concentração - Componentes psicoeducacionais na prevenção e solução de conflitos -Programa de Pós-Graduação Strito-sensu em Direito - da Fundação Educacional de Ituiutaba - Campus da Universidade do Estado de Minas Gerais.



Resenhista: Marcelo Balli Cury

I-OBRA

VASCONCELOS, Celso dos Santos. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como sujeito de transformação. São Paulo, SP: Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica. 205 p.

II- CREDENCIAIS DA AUTORIA

Prof. Celso dos Santos Vasconcellos é Doutor em Didática pela USP, Mestre em História e Filosofia da Educação pela PUC/SP, Pedagogo, Filósofo, pesquisador, escritor, conferencista, professor convidado de cursos de graduação e pós-graduação, responsável pelo Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica.

Obras publicadas pelo autor:

1. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico -elementos metodológicos para elaboração e realização

2. Construção do Conhecimento em Sala de Aula

3. Avaliação: Concepção Dialética - Libertadora do Processo de Avaliação Escolar

4. Disciplina: Construção da Disciplina Consciente e Interativa em Sala de Aula e na Escola

5. Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente - do "é proibido reprovar" ao é preciso garantir a aprendizagem

6. Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança - por uma práxis transformadora



III- CONCLUSÃO DA AUTORIA

Apesar da determinação mais geral ser a mesma, encontramos hoje escolas e educadores com formas de trabalho e posturas bastante diferentes; isto reflete o grau de autonomia relativa que o sujeito tem em relação à sociedade e reforça a possibilidade de mudança. A prática tem demonstrado que com as mesmas condições macro, tem havido mudanças muito positivas no micro, à medida que seus agentes assumem um compromisso com a transformação do cotidiano do trabalho escolar (cf. Vasconcellos, 2000a:51). Algumas mudanças dependem de instâncias superiores ao professor ou à escola; nestes casos, a luta é mais longa e exige um conjunto maior de mediações. Mas outras estão, muito objetivamente, ao alcance do professor e da escola; estas mudanças devem ser feitas, se queremos construir algo novo(cf. Vasconcellos, 2000a:54). Reiteramos que sempre existem espaços para avançar; onde não há espaço, há formas de resistência, de denúncia, de luta.

Não podemos perder de vista também que quem transforma a realidade não é um sujeito isolado, mas um conjunto de homens, num determinado contexto histórico, com uma determinada organização; apesar de nossa história estar marcada pelo culto à personalidade, a transformação nunca é resultado de apenas uma pessoa. Os acontecimentos podem até ser desencadeados e liderados por um sujeito, mas este por si nada poderia se não tivesse sido formado pela história de todas as gerações passadas e não tivesse a participação dos demais. Como pode acontecer de tão poucos dominarem a tantos? É que falta uma ação contrária desses tantos(servidão voluntária). Quanto maior o número de sujeitos empenhados na mesma transformação, maior a possibilidade de se alterar a realidade.

Insistimos que a luta precisa ser articulada nos vários níveis de intervenção:

. Pessoal

. Escolar (sala de aula, equipe, companheiros)

. Comunidade Escolar (alunos, pais, vizinhança)

. Associativa (órgãos de classe, sindicatos)

. Sistema de Ensino (órgãos intermediários, centrais, dirigentes)

. Social como um todo (meios de comunicação, partidos, igrejas, Estado, movimentos, etc)

Deve, pois, ser simultânea: no cotidiano e na perspectiva mais ampla. A dimensão mais geral implica desde nossa organização enquanto categoria profissional e classe social, até o votar adequadamente nos nossos representantes e governantes, bem como em acompanhar e cobrar atitudes políticas transparentes e coerentes. No dia-a-dia, temos que mostrar à sociedade o valor do nosso trabalho, não tanto através de discursos, mas através de um trabalho sério, competente, comprometido com a qualificação da cidadania dos meninos e meninas que estão desde já sob nossa responsabilidade.

É preciso que o professor se comprometa e busque, por exemplo, formar um coletivo, pequeno que seja, com outros educadores, desenvolver um trabalho alternativo em sala de aula, procurar reciclagem, constituir grupos de estudo, enfim, não se acomodar, não se demitir. Tratar-se-ia de uma postura voluntarista? Seria no caso de ficar restrita ao nível pessoal, mas se há, ao mesmo tempo, o compromisso e a luta por uma educação democrática e de qualidade e por uma sociedade justa e solidária, esta é uma postura revolucionária do educador. É importante que o trabalho de cada um, aquilo que está assumindo, que está lhe cabendo historicamente, seja articulado com a totalidade para não reduzir, distorcer ou fragmentar a ação (dialética parte-todo).

Por falta de posicionamento mais firme e de coragem de lutar, pode acontecer de prevalecer, no dia-a-dia da escola, o clima necrófilo, do "deixa disso": os demissionários acabam dando o tom, reagindo, diante de qualquer tentativa de mudança, com ironia e sarcasmo imobilizador - senão for enfrentado -: "você não é pago para isto", " Está querendo agradar a direção". É preciso lutar, não deixar o clima predominante na escola caminhar por aí. O grupo comprometido com uma perspectiva de trabalho inovadora não pode se deixar dominar por esta influência nefasta; ao contrário, precisa mostrar a possibilidade de práticas alternativas concretas.

Se quisermos formar o aluno para poder interferir na transformação da realidade, para a solução de problemas de seu tempo, também nós educadores temos que procurar interferir na nossa realidade e resolver os problemas postos. Ao enfrentarmos novos obstáculos é que o compromisso político vai se firmar(esmorecer); o que até então era apenas uma vontade, um despertar, tem agora que amadurecer.

O autêntico professor não é auto - centrado, não se perde num narcisismo cego e exacerbado. Pelo contrário, sabe-se fazendo parte de um movimento muito maior, que articula a tradição (passado), engajamento(presente) e horizonte(futuro); pelo acesso ao conhecimento, percebe cada vez mais a extraordinária complexidade do mundo, o que o remete à humildade. Não se trata, pois, de formar "discípulos" fiéis e admiradores da sua - eventual - capacidade de explicitar a rede de relações do real. Trata-se, isto sim, de convidar o outro (o aluno, o colega, etc.), consciente, a fazer parte da rede, seja no sentido da inserção crítica na realidade, quanto no fortalecimento dos laços de competência, solidariedade e compromisso com a transformação.

O professor tem como tarefa fundamental ser portador da esperança, de um projeto de futuro, recusando-se, portanto, a aceitar que a configuração do mundo que está aí é a única possível, recusando-se a amesquinhar sua existência, negando-se a abrir mão de seu sonho de uma vida melhor para todos.

Nunca é demais relembrar que este é o horizonte desejado, que este novo professor não está pronto, mas em permanente construção. Como nos alertava Sócrates (sábio dos mais antigos do Ocidente), um dos grandes inimigos da verdade é a arrogância daqueles que não reconhecem sua necessidade de saber mais. O que importa é estar a caminho.

É decisivo acreditar que o mundo pode ser melhor do que é; e não só acreditar em termos pessoais, mas se comprometer a trabalhar esta visão com as novas gerações, abrindo novas perspectivas, um horizonte novo de vida e de esperança para todos.

O professor é o coordenador do processo de ensino - aprendizagem. Deve assumir seu papel de sujeito histórico de transformação da realidade escolar, articulado à realidade social mais ampla.

IV) DIGESTO

Não nos demos conta suficientemente das radicais conseqüências da profunda mudança na relação Escola-Sociedade.

A então pós-modernidade (crise da racionalidade, fim das utopias, subjetivismo, mudanças no ordenamento mundial, revolução tecnológica, exacerbação religiosa, etc.), tem gerado um estado de perplexidade que não é exclusivo do professor, mas tem nele uma especial repercussão, justamente por trabalhar com a produção de sentidos.

O professor precisa ir além, procurando resgatar a tecitura que compõe o real.

O professor é intelectual por ser humano (embora esta obviedade seja, não raras vezes, ignorada ou negada), e deve ser intelectual também por exercer o papel de formador das novas gerações. Não pode ficar na manifestação imediata das coisas, no fenômeno.

O sistema educacional brasileiro, já se encontra em processo de desmonte há décadas, aliado à crise de referenciais que estamos vivendo em termos de civilização. Todavia, temos de levar em conta esta realidade, reconhecer sua existência.

Ter percepção mais global para poder re-significar sua ação, é essencial ao professor, até porque não serão poucas as resistências que provavelmente encontrará na sua tentativa de realizar uma prática transformadora. Seu trabalho envolve escolhas metodológicas, que não são imunes de condicionamentos, nem são politicamente neutras, devendo, pois, ser contextualizadas historicamente.

Uma verdadeira crise de identidade tem sido provocada, passando a ocorrer uma desvalorização social do professor, a ponto dele mesmo assumir, autodepreciando-se pessoal e profissionalmente.

A situação do professor tem, obviamente, uma relação intrínseca com a percepção social do valor da escola. Do ponto de vista da classe dominante, a necessidade seria para a formação de mão-de-obra; inculcação ideológica; seleção de "aptos"; estação de espera; interesses eleitoreiros e Comércio.

Para a população, a formação vai garantir: maior escolaridade; ascensão social; exigência social; assistência social; sociedade do tempo livre; campo de trabalho; escola como agência socializadora.

Existe o tecno professor (livros didáticos, apostilas, vídeos educativos, etc.); existem outros canais de inculcação ideológica; O professor é descartável do ponto de vista da classe dominante, pois houve a diminuição da necessidade da escola como "Formação de mão-de-obra.

Sonho impossível; não atinge objetivo; não vinculação com a realidade; reprodução do sistema; há a queda do mito de ascensão social através da escola.

A tendência é aprofundar cada vez mais as contradições.

Para que haja mudança, e na direção desejada, é preciso, pois, qualificação, passando pelo conhecimento. Daí a contribuição específica da escola, enquanto território característico da dialética ensino-aprendizagem.

A escola começa a não responder mais ao anseio de ascensão social. Um dos grandes problemas para a escola hoje é a falta de um objetivo político, de um projeto, de um sentido assumido socialmente. Há a afirmação genérica de formação da cidadania, porém não se define com exatidão o que isto quer dizer.

Necessidade de Mudança de Paradigma: Novos valores e Democratização (social e econômica)

Sentido para o estudo - Educar é humanizar

O que vai dar a direção de superação das questões postas inicialmente pelo professor é também o que vai dar sentido, horizonte, para o aluno: a esperança de poder construir uma realidade diferente e de que a escola pode contribuir para a concretização desta sociedade mais humana.

O mesmo movimento que recupera o sentido do trabalho do professor é o que dá sentido ao estudo para o aluno.

Não é o professor que deposita o conhecimento na cabeça do educando. Por outro lado, sabe também que não é deixando o educando sozinho que o conhecimento brotará de forma espontânea.

Quem constrói é o sujeito, mas a partir da relação social, mediada pela realidade.

A negação é um dos mais avançados mecanismos de defesa do professor frente à realidade. A importância do reconhecimento está em superar as desculpas e assumir a sua realidade.

Cabe ao professor desembaraçar-se de uma posição reativa, defensiva e partir para a autocrítica e (re)construção de sua proposta política-pedagógica

O poder do professor não é algo estático, que está dado de uma vez para sempre. Pode ser ampliado, mantido ou reduzido; pode ser redirecionado, etc.

As denúncias do autoritarismo dos mestres em relação aos alunos, são clássicas, onde a utilização da nota como arma é uma das mais visíveis e de conseqüências drásticas tanto do ponto de vista pedagógico, quanto psicológico, social, econômico, etc.

O poder do professor é concreto, ainda que reduzido (ou negado) num primeiro momento. Assim sendo, atuar onde lhe é possível tem sentido.

Nossa convicção, pois, é que, não obstante os diversos condicionantes, é possível desde logo, o professor/escola ter uma prática de mudança em relação à educação alienada, exercendo o seu poder no sentido de que seja garantida a efetiva aprendizagem e desenvolvimento de todos, tendo como referência um projeto de libertação humana.

A reserva ética vai precisar ser usada pelo professor, para se engajar e buscar alternativas, ainda que nas condições iniciais mais desfavoráveis. Há uma carga de energia adicional liberada quando se faz algo que se acredita. Este é o alimento, o combustível do revolucionário: esperar contra todas as desesperanças. Isto é necessário numa fase de transição, até que se consiga conquistar algumas condições melhores de trabalho (onde não seja requerida tanta determinação pessoal).

Pode ser que de imediato dê para mudar muito pouco em termos objetivos (salário, número de aulas, etc.), mas, na medida em que o professor faz um trabalho mais significativo, que acredita, pode se sentir melhor, se realizar mais, aumentar a auto-estima, e até ter mais energia para lutar pela transformação das condições objetivas e poder contagiar (ao invés de afastar) outras pessoas para a mesma causa.

O desgaste não é apenas a carga de trabalho, mas também a falta de sentido do mesmo. Assim, o enfrentamento da questão pedagógica na sua especificidade acaba contribuindo para o enfrentamento de outras questões, na medida em que o professor vai resgatando sua condição de agente de intervenção.

Vislumbramos a perspectiva de superação, pois, é a co-responsabilização dos diversos agentes educativos (professores, coordenadores, orientadores, funcionários, direção, supervisão, pais, alunos, comunidade local, dirigentes, sistema de ensino, sistema social), apelando a que os diferentes atores mobilizem criticamente as suas energias, em vez de se refugiarem em teorias defensivas e de justificação. (Nóvoa, 1992a:24), tendo clareza que assumir responsabilidade significa qualificar-se, colocar-se na posição de sujeito histórico.

Mais dia, menos dia, os educadores acabam divisando certas contradições que fazem parte desta realidade Depois de um certo tempo de experiência, os professores vão se apercebendo que a realidade é um tanto mais complicada do que inicialmente imaginavam, qual seja, seus esquemas explicativos começam a não dar conta das várias manifestações da prática educativa.

Analisando as posturas dos educadores frente a estas contradições, podemos reuni-las em três grandes grupos, a dicotômica, a média e a dialética.

A dicotômica trabalha por extremos, é tudo ou nada. A média caracteriza-se pela tentativa de conciliação, de busca de harmonia, de consenso artificial: face às manifestações contraditórias do real, pega-se um pouco de cada pólo a fim de chegar a um "equilíbrio". É muito prejudicial também, tendo em vista o esvaziamento do caráter motor das contradições para a mudança da realidade, já que não são reconhecidas nem trabalhadas.

Marcada por uma forma de pensar ligada ao movimento, totalidade, que percebe os opostos se exigindo mutuamente é a dialética, que tenta assumir a contradição como fazendo parte da realidade e trabalhar a partir dela, visando a superação por incorporação. Gramsci já alertava para a dificuldade do pensar dialeticamente, uma vez que vai de encontro ao vulgar senso comum, que é dogmático, ávido de certezas peremptórias, tendo a lógica formal como sua expressão (1984a: 159).

Um dos fatores fundamentais numa nova concepção de educação é a perspectiva da tensão dialética. Como dizia Álvaro Vieira Pinto (1909-1987), o comportamento dialético não consiste em pensar a contradição (1979:211). O alerta no sentido de dialetizar o enfoque dialético, dado o risco permanente de cairmos no dogmatismo.

Podemos abstrair as dificuldades para a mudança (caindo no voluntarismo), absolutizá-las (caindo no determinismo), ou trabalhar na contradição dialética do já e do ainda não: já se pode superá-las, todavia ainda não integralmente.

O único jeito de se fazer história. É a dialética de continuidade-ruptura.

O desafio, portanto, é viver o jogo tenso entre aquilo que desejamos e os limites que estão colocados pela realidade. Alimentar esta tensão, a nosso ver, é o grande segredo. Por outro lado, é Diante disso, o autor aborda o espaço de reflexão coletiva e contínua da prática, demonstrando a necessidade do espaço, onde a tarefa do professor é extremamente importante e complexa; um dos macroprocessos mais perversos que se instalou em nossa civilização é justamente a divisão social do trabalho; o espaço de reflexão coletiva contínua sobre a prática pedagógica deve ser acompanhado por uma dinâmica gerencial-administrativa coerente com o processo de transformação com o qual se está comprometido.

Uma nova linha de trabalho, um dos maiores consensos é justamente essa necessidade do professor rever sua atitude, mudar a mentalidade. No processo de transformação da prática pedagógica, o essencial é a mudança de postura do educador.

A Postura é uma predisposição do sujeito para sentir/perceber, pensar, valorar e agir de determinada forma; é uma atitude frente à realidade, que revela a maneira de ser, a cosmovisão, a concepção de fundo; corresponde à expressão do enraizamento de uma certa intencionalidade. Compreende, portanto, componentes cognitivos, afetivos e comportamentais.

O que vai dar os critérios para a direção da mudança é o conjunto de valores e compromissos assumidos pelos educadores, pessoal e coletivamente.

Os estudos sobre mudanças educacionais indicam que se deve imprimir ênfase inicial à mudança de atitudes e somente mais tarde à mudança de métodos e práticas, isto para diminuir o risco das inovações se tornarem pseudo-superações.

É pertinente a preocupação dos professores em buscarem novas metodologias, novas técnicas, necessárias para objetivar a nova postura e não ficar só na novidade do discurso. Não adianta só mudar a concepção, cabe encontrar práticas que incorporem estes novos princípios; tomar a elaboração como referência e tentar intervir, refletindo sobre isto.

Neste sentido, no campo da postura, da atitude, é talvez onde encontremos o maior espaço de liberdade do sujeito. Enquanto que determinado fazer pode depender muito das condições objetivas, a postura depende mais do sujeito, da maneira como se posiciona frente à realidade.

A própria visão de mundo depende, não significa autonomia absoluta, dado que do meio também (desde a possibilidade de acesso à informação até de colocar em prática). Isto, naturalmente, interfere na construção da postura.

O que mudou, então? Num primeiro momento, mudou a postura do professor em relação à realidade em que estava inserido; mudou, portanto, a articulação entre a (antiga-nova) concepção e a (antiga-nova) prática; e isto é decisivo para desencadear o processo de mudança.

Em muitas práticas efetivas de mudança, constata-se que vários dos fatores colocados como obstáculos (legislação, materiais, etc) não foram alterados e, no entanto, avanços substanciais foram conseguidos (melhor rendimento dos alunos, clima democrático na escola, etc.). O que se visa é criar um clima na instituição em que a postura equivocada não tenha espaço para se repetir, uma vez que, de alguma forma, e aliada à transformação das condições, se consiga fazer emergir a consciência da contradição e dos mecanismos que a sustentam (cf. Adorno, 1995a:123).

O professor, como se vê, deve ser um lutador. Mas isto, obviamente não é privilégio dele; qualquer cidadão neste país precisa se mobilizar e se mexer, se quer se comprometer com a democratização.

Paralelamente, e isto também é decisivo, o professor deve estar engajado na melhoria de sua condição de trabalho. Ao mesmo tempo ainda, tem de estar lutando por uma sociedade mais justa e solidária.

A perspectiva é iniciar um processo de descondicionamento, de resistência, de modificações paulatinas, investindo deliberadamente na continuação da mudança, pois, caso contrário, as forças de inércia levarão ao seu enfraquecimento e extinção.

A formação do professor é um ponto básico e de seríssimas repercussões para o trabalho do educador e ponto de partida para o resgate da dignidade profissional.

Essa formação deverá dar conta do conjunto das questões que envolvem a atividade docente.

A falta de condições de trabalho, o não-reconhecimento social da tarefa educativa, a percepção da fragilidade da formação, etc. têm se constituído, com efeito, até em causa de abandono do magistério. Reverter esse quadro é decisivo.

Em relação à formação inicial, é preciso superar certas visões parciais tais como a do educador nato, ou a visão meramente instrumental.

A colocação do estágio durante o curso e não mais no final, oportunizando a reflexão crítica e coletiva sobre a realidade vivenciada, são algumas das alternativas; bem como; a introdução da disciplina Teoria do Conhecimento, a atividade de pesquisa durante todo o curso e não apenas na disciplina de metodologia científica e no trabalho de conclusão do curso; etc.

Visando a formação permanente, embora ainda embrionária em relação ao conjunto das redes de ensino, e muitas vezes com uma série de equívocos, têm crescido as práticas de programas de capacitação continuada, da mesma forma que para os alunos.

Há que se contemplar na formação do professor tanto os conteúdos conceituais (relativos a informações, fatos, conceitos, imagens, etc.), quanto os procedimentais (habilidades, hábitos, aptidões, procedimentos, etc.) e atitudinais (disposições, sentimentos, interesses, posturas, atitudes,etc).

A questão de sobrevivência com um mínimo de dignidade leva em conta o salário: poder morar, se transportar, comer, vestir, cuidar da saúde, Ter um pouco de lazer, Ter acesso a bens culturais, até como instrumento de trabalho.

Melhorar os salários dos educadores não garante mecanicamente a melhoria da qualidade do ensino. À luta pelas melhorias salariais deve corresponder a luta por procedimentos pedagógicos compatíveis com a aprendizagem do aluno.(Franco, 1986:53).

A recuperação salarial é uma necessidade premente. Temos de considerar que não há, como analisamos, interesse de grande parcela da classe dirigente na escola de qualidade para a população.

Em função de um projeto de vida, de um compromisso assumido com uma causa, a mobilização das forças e energias da pessoa vem, de um lado, da necessidade de sobrevivência; mas a melhor qualidade de si, a pessoa dá e isto não tem preço!

Sensiblizar a comunidade para a causa da educação de qualidade democrática e desencadear um processo de recuperação salarial por aproximações sucessivas e recuperar sua auto-estima, devendo se unir e se organizar.

O resgate da dignidade profissional vai depender do trabalho pedagógico, que é o campo de atuação por excelência do professor, sendo que a qualidade é decisiva.

Manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento faz parte da qualidade formal.

Qualidade política quer dizer a competência do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana. É condição básica da participação. Dirige-se a fins, valores e conteúdos. A qualidade dos meios está em função da ética dos fins. A qualidade dos fins depende da competência dos meios.(Demo, 1994:14-15)

Exigências em relação aos vários aspectos do trabalho do professor, numa perspectiva de emancipação humana:

.Planejamento: Instrumento de transformação da prática. Pela superação do dogma de "cumprir o programa". A tarefa fundamental é ajudar o educando a desenvolver-se e compreender a realidade, sendo o programa um meio para isto e não um fim em si mesmo.

.Objetivo: É fundamental a clareza da finalidade da educação, numa perspectiva democrática, almeja-se que haja compromisso com a transformação social e com a aprendizagem de todos os educandos, trabalho consciente.

.Conteúdo: significativo; crítico; não - fragmentado; superação da dependência em relação ao livro didático; busca de fontes alternativas de informação; que veicule valores humanos fundamentais- justiça, liberdade, solidariedade, verdade, paz, etc.

.Metodologia: participativa; construção do conhecimento; problematizadora; que sem se fechar de forma preconceituosa, não se iluda com os modismos dos recursos, das tecnologias como se fossem a solução para o problema pedagógico.

. Avaliação: para ajudar o aluno aprender mais e melhor; como processo e não como momento isolado; avaliação de todos os elementos envolvidos no processo e não apenas o aluno.

.Relação Professor-Aluno/Disciplina: baseada na afirmação da dignidade do outro como ser humano; respeito, atenção, comunicação autêntica, estímulo, acreditar no outro; entendimento da disciplina como condição de trabalho coletivo; saber trabalhar situações de conflito.

.Vestibular

Convém lembrar que considerando que a tarefa docente corresponde a uma delegação social, temos clareza de que sem pressão da comunidade não podemos ter esperança de que haja uma alteração substancial no quadro da educação, nem que o professor venha a ter revertida sua situação em termos de formação, salário.

É preciso explorar a contradição entre as exigências, de um lado, e a falta de condições de outro. A partir dela, o professor terá elementos para sua afirmação diante da sociedade, à medida que mais do nunca ele é necessário.

O apoio da comunidade é decisivo tanto em termos da conquista de uma adequada política educacional, quanto do próprio aproveitamento escolar.

O que se espera da família é o respeito, o apoio, a valorização de tal atividade profissional.

A interferência na realidade da educação, visa melhorar a qualidade de ensino desenvolvendo a contradição na direção que seja favorável à maioria da população.

O eventual apoio de setores progressistas e nacionalistas da classe dominante, é sutil, devemos contar basicamente com a organização democrática e de qualidade: movimentos sociais, associações, ONG's, sindicatos, partidos, igrejas,etc.

Os dirigentes precisam compreender a especificidade da educação, onde a pessoa do professor entra muito intensamente (disposições afetivas, valores, crenças, visão de mundo), sendo, portanto, absolutamente imprescindível que o docente participe na condição de sujeito, e não de mero executor de mudanças intempestivas, arbitrárias, impostas autoritariamente.

Os professores precisam ter clareza que, da mesma forma que não podem ser objetos das decisões caprichosas ou idiossincráticas dos mantenedores, não podem ser objeto de uma lógica histórica desumana instalada no seio da escola.

Acaso um meio cidadão poderá formar um cidadão inteiro?

V- METODOLOGIA DA AUTORIA

O método utilizado pelo autor é o indutivo, de procedimento estruturalista, a modalidade empregada técnica e intensiva, as técnicas utilizadas foram de observação, entrevistas, formulários, questionários, bibliográfica.

VI- CRÍTICA DO RESENHISTA

Numa época social complexa e confusa como a que vivemos de despersonalização individual e coletiva, de relações humanas caracterizadas pelo poder de uns sobre os outros e de uma percepção de realidade muitas vezes falseada ideologicamente, humanizar e resgatar o professor como sujeito de transformação, representa um desafio, e ao mesmo tempo uma iniciativa coletiva a ser tomada pelo governo/sociedade em benefício de todos.

O autor conseguiu alinhavar brilhantemente a situação atual do professor, os aspectos mais relevantes e estudá-los minuciosamente em busca "desse" resgate/transformação. Diante disso, cabe a tomada de consciência de todos e "mãos-à-obra", para dar o "realce" necessário à transformação de fato.

No início da obra, o autor apresenta os fatores favoráveis e desfavoráveis ao resgate do professor, tais como ações coletivas de empenho pela vida; retomada do valor social da educação; ampliação da produção teórica crítica; busca de alternativas; professor voltando a estudar; remuneração injusta; autolimitação; desânimo; transferência de responsabilidades; etc.

Demonstra que para que venham a ocorrer a mudança das condições objetivas, vai depender da mudança subjetiva do professor, da sua atitude, da sua postura face à realidade, mas não de forma isolada; está relacionada a um movimento social de resgate da cidadania para todos.

A abordagem da profunda mudança na relação Escola-Sociedade, a chamada pós-modernidade(crise da racionalidade, fim das utopias, subjetivismo, mudanças no ordenamento mundial, revolução tecnológica), tem repercussão especial no professor, pois ele trabalha com a produção de sentidos; porém, muito bem colocado por Vasconcellos, ele é o coordenador do processo de ensino-aprendizagem; devendo assumir seu papel de sujeito histórico de transformação da realidade escolar, articulado à realidade social mais ampla.

A reflexão sobre o seu papel, a clarificação dos conceitos de conhecimento, ciência e ensino, a apreciação de suas motivações primeiras, expressas na experiência do ser, na vivência dos sentidos da vida, poderão se constituir numa contribuição para dar continuidade a este trabalho magnifíco de resgate do professor como sujeito de transformação.

VII- INDICAÇÕES DO RESENHISTA

A obra de Celso dos S. Vasconcellos deve ser indicada a todos os alunos do magistério, do mestrado, àqueles que exercem atividades na área da educação e, principalmente aos professores, desacreditados de si e do sistema educacional. Proporcionará uma reavaliação de suas funções, uma perspectiva otimista de transformação, visando o resgate de si mesmo e de sua dignidade, sem esquecer da responsabilidade coletiva da sociedade.





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